segunda-feira, outubro 29, 2007

Te dou minha palavra


lembro de você imóvel de cílios apontados pro céu,

brincando de dizer coisas que me assombravam o coração.

lembro de você insubstituível.

a vida moldada em torno dos seus cabelos e seu abraço.

lembro de coisas indizíveis.

ninguém acreditaria se eu disser o que fazia a gente dar tanta risada,

jeito tolo de dizer coisa importante,

sem a menor importância.



lembro da casa que era sua e agora não sei a quem pertence,

mas que dentro de mim virou a casa eterna do meu amor pra sempre.

claro que nada nela deve ter mais sua cor,

então tingi a memória com o cheiro do que me lembro...

lembro que eu te vi chegar de camisa verde, a última pessoa a descer do carro, pensei que nem vinha,

você nem sabia que eu via, estava lá de cima, da casa do amigo hoje morto,

mas te vi saltar do automóvel por último, e pensei,

meu amor tarda mas não esqueço...




lembro até

de coisas que nem quero

canções que já nem ouço,

pessoas que nem vejo,

porque isso tudo me traria o gosto do que não tive

em ti, tantas coisas faltaram ser minhas,

seu coração, fragmentos apenas,

nem sei se foi suficiente para outra felicidade,

e a que sinto nem sei se é feliz,

mas sei que lembro com todo cuidado,

de tudo, amargo ou florado.



e te dou minha palavra que está tudo a salvo.



Eduardo Alves

sábado, outubro 27, 2007

RIO VERMELHO BLUES

sentimental feito o cão,

saio de noite, objetivos confessos:

um só olhar desejoso, e farei mil progressos...

alguém me convida num bar: cante um trecho da canção

que fala de Baudelaire

“ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama

de Baudelaire...”



sentimental feito o diabo,

volto pra casa, adjetivos pregressos:

nenhum olhar desejoso, e bebi mil dejetos...

alguém me diz na TV: cante um trecho da canção

sobre os poetas de araque:

“ninguém me ama, nem aqui nem no Iraque,

ninguém me chama de Chico Buarque... “



comecei a duvidar,

sobre o que vim fazer aqui,

se é pra me acabar de rir de mim,

ou me encontrar, pra esquecer de fugir;

eu sempre sou otário e bobo da corte,

eu sempre deponho a favor do azar,

mas eu amo, e isso não é morte,

eu canto é pra me eternizar!



Eduardo Alves