quarta-feira, maio 30, 2007

POESIA DE VOCÊ

A poesia sabe de você: ela se filtra
Em sua carne doce, sua alma mansa;
A poesia cabe em você, ela se anima
De suas cores-flores, pérolas de rima...

Ela não sai dos invólucros do medo
Sem tua palavra dita rara primavera
Em sua boca ela é filme sem segredo
E se desnuda toda em sua pele-tela...

A poesia veste as suas fantasias
Já te queria musa antes que eu pudesse ver
O que os amores me dariam de você,
A poesia chegou antes e esculpiu
Todos os traços que não devem perceber
Olhos comuns de quem jamais te sentiu...


EDUARDO ALVES – MAIO 2007

quinta-feira, maio 24, 2007

Cafonice



rasguei
mil cartas que dariam
boleros de sucesso, ah, rasguei
queimei vinis 78 rotações,
talvez assim exorcisasse canções
que poderiam vir de mim mesmo,
contaminadas de romantismos vis,
de tantos compositores febris,
que eu jamais quis ser,
que eu lutei pra jamais ser...



cuidei,
de corações perdidos,
escrevendo mil pragas e revés,
pra quem do amor se utilizasse ao fazer sofrer
pagasse o preço do insucesso e pudesse querer
tentar outros refrões sem ilusão,
livres de romantismos vis
de tantos compositores cruéis,
que eu jamais quis ser,
que eu lutei pra jamais ser...



cafonice demais,
sandice demais,
falar de amor e de dor,
misturar fel e sabor,
Deus me livrou desse patético expediente...
se eu fosse um cafona dessa estirpe, assim,
cantaria boleros rasgados,
e diria mesmo sobre mim,
o que atribuo aos outros, coitados...



Eduardo Alves
maio, 07

quarta-feira, maio 23, 2007

Tantos Amores ( porque prima Joana me "acusou" de romântico)

é sempre,
não é de vez em quando só, relance,
nem de surpresa,
sem chance de ser só um pouco,
muitas vezes vem, assim, o transe
algo revolto,
quase de cinema a tela inteira,
quase de oceano, além, pra lá da beira,


é sério,
toda a razão de ter tanto mistério
é porque está o tempo todo, aquilo
incomodando de prazer e vício
a calma de artifício,
o equilíbrio morto,
o tempo está propício o tempo todo...

é isso,
o nome que se dá a tudo
que precipite a vontade de ser
TÃO INSANO QUANTO
não se julgava poder,
anti-projeto de medo, amor,
estímulo de desgoverno, amor,
perda de cada sentido, amor,
mais que o sentido inteiro, em si;
pra se afogar de verdade, amor
dentro de cada loucura,
tantos amores se façam, por nós,
luzes da nossa procura...


Eduardo Alves - mai/07

terça-feira, maio 22, 2007

Soneto controverso

Diga-me algo
que não combine
com essa boca
que tanto amo.

Diga-me adeus
pois é isso
que mais temo
e não decifro

assim
vou viver livre
de tais mistérios

e não dirás
nada que nunca
me tenha ferido

eduardo Alves, maio/07



sábado, maio 19, 2007

ENCERRADO

assunto encerrado, desejo morto,
quarto trancado por dentro...
no caos do contato, pás de cimento,
no cais de partida ventos pro barco...
To indo e me solta, me sinta escorrendo,
o amor é laico, o gôzo é sedento,
todos os defeitos cabem no meu peito,
quero abri-lo ao vento, me sentir alado...

e antes que eu diga
seu nome em vão, para qualquer praga,
e tema o revés, adeus, adeus, até jamais
um samba, pode resolver a questão
basta cantar em alto e bom refrão,
você mais não, ou não, você não mais...

EDUARDO ALVES, MAIO/07

TODOS OS PERIGOS

Saiba,
Colocar os pingos nos “is”,
E encontrar maneiras sutis,
De espalhar misérias e fel,
Tudo mergulhado no mel,
Pragas e feridas sortidas,
Tatuadas nas peles febris...

Suba,
Na altura máxima do mal,
Todos os requintes mais vis,
Seremos cobaias fiéis,
Nada é tão prazer que a teus pés,
Sentencie escândalos pra nós,
E nos deixe sem sangue e sem voz...

Estacione seu corpo na minha vontade,
Todo o bem, todo o mal da verdade
Eu quero assim, seus anjos e diabos
Hospedados em mim...
Vez eu quando eu procuro outro vício,
E te deixo no ar,
Pra enfeitiçar outro tonto,
E só reinar, e reinar, e reinar...

quiero la noche entera,
E que la noche sea eterna contigo,
Con quen aprendi de los peligros...


Eduardo Alves

Jan.07



sexta-feira, maio 11, 2007

Rotu/lado



Não,
Não faço tão mal quanto diz na bula,
Essas substâncias...
Posso ser diluído durante um eclipse,
A lua subtendida...
Não pareço tão ofensivo assim, entre seus dedos,
Seus dentes me calam,
Reflita sobre mim
Pelo ângulo maduro:
Tudo inacabado, algo de inseguro...

Não,
Não sou imune a boleros castelhanos,
Nem rocks sessentistas,
Tantas vezes me derramo e deixo pistas
Daquilo que me concentra,
Inteiro em todos os pedaços quando me arrebenta
A alma intolerante,
Não nasci pra ser julgado pelo instante,
Há dúvidas de sobra,
Prefiro o meu errante conjunto da obra...

Também, não,
Não cabe produto em minha dor,
A poesia vaza,
A canção delimita a ânsia da agonia
Quando me alivia,
Não sei ser out-door de promoção
O sentimento é raro,
Tudo em mim, da dor, é diamante caro,
Nem dinheiro vasto compra meu segredo,
Anti-rotulado coração sem medo...


Eduardo Alves

quarta-feira, maio 02, 2007

SONETO ESQUERDISTA

Coração de pasto, continente aflito,
Roubem-lhe as uvas e cuspam-lhe pedras.
Terra em que ninguém passeia nem se enterra,
Coração enfastiado de amores insolúveis.

Credo em cruz me impetrar outra paixão de inverno
Fazer engolir o fardo e entoar o blues amargo
Em dor maior, hinos irracionais em batida esquerdista
Tudo vermelho, mas no poder, desbotado, desbotado...

Tantas transfusões serão insuficientes
Para lhe dar caráter e jeito de algo
Que se respeite para não apanhar de novo, coração

Mas não te curas porque não te achas
Nesse emaranhado de luas que escaparam do limbo
E se enfiaram no peito pra te encouraçar, te esconder, te afogar em luzes...


Eduardo Alves, maio/07

(IN)DECISÕES



Outras decisões;
Mas devem ser as mesmas,
Resgatadas
para essa dor de agora.
Parecem pílulas
Contra um cansaço de sempre,
Revigorado
Para espancar esperanças.

Todos os dias
3 da manhã
lateja na têmpora
a vingança amada;
parece um filme
que nunca termina,
e extermina.

Qualquer dúvida,
Continua assim
Calada e impassível,
No altar criado
Para reverenciar a saúde
De sua magestade delirante
Péssima anfitriã de corações

Mas passa... deve passar
Mudar de planos
Nem que seja deste
Para o purgatório
Nem que seja deste
Para a sala de boleros
Todos de mãos dadas,
Jurando redenção
E rock’s catárticos...

Outras velhas decisões de sempre...
Eduardo Alves
maio/07