quinta-feira, janeiro 21, 2010

Pensamento de partida


Assim que não for tão cedo,
Tão logo de me esquecer,
Quem sabe mande recado,
E avise ao impossível,
Que fui, e quem sabe o quando
Vivamos as mesmas estrelas
Que as daqui, errei na mira,
E agora acertaram partida.

Enquanto dormem as crianças
Sem choro nem vela alguma
É assim que a palavra amarga
Cala na hora do rumo
E onde quer que se vá
Dá pra avistar quem se ama,
De dentro dos estrebilhos,
Do fundos das almas irmanadas...


Os sonhos, sejam quais forem
Afinarão instrumentos,
E a saudade dos melhores
Revirou os olhos dos cegos,
Concluo que os desafetos
Ainda precisam de alívio,
Mas amores que cristalizam
Cobrem todas as despesas...

Assim que preciso for,
Os relógios desacertam,
Os tempos fogem da estrada,
As escolhas ficam pra longe,
E já haverá agostos
Afora os que nos consomem
E aqueles abraços guardados
Não sobrarão pro cansaço...

Os corações derramados
Quando enlaçados estão
Comungam a mesma esperança,
Tratam-se forma amena,
O adeus é uma armadilha
Que só captura o ilusório,
Porque o brado dos sentimentos,
Dorme tranqüilo no fundo do peito.




segunda-feira, janeiro 18, 2010

VÁRIAS VEZES EU


Meio do meio do mundo,
É jogo de cintura a senha do acaso,
Aqui do lado cru 
do Atlântico incerto,

Quem não souber de nada, nem queira, nem saiba,
Poeira paira.
Preto moleque perdido,
O pé do Pedro é preto, e o Pedro é meu primo,
E eu sou também morfino, herdeiro do risco
Quem erra meu apelo, acerta o descaso,
Que é o meio disto.


Agora vou sartá de banda pra ver no que dá,
Esconder bola do jogo pra experimentar,
Beira do mar, beira do mar...
E o restante do sujeito é pilha pura,
Água turva de mistura que ninguém atura,
Beira do mar, beira do mar,
A solidão é mal de mundo, viva a solidão,
Pra virá homi de bem tem que roer osso do cão,
Beira de mar, beira de mar
O miserê é bem bonito de se ver,
Vira arte contemporânea pra nego vender,
Nego que nunca foi nego, nem deu lombo pra bater,
Eu quero ver fogo pegar e nego não correr,
Aqui é esquema breu,
Tem que ter mais de sete alma,
Eu tenho sido várias vezes eu.


Porque, Deus é Pai e nunca falha,
Há de sempre haver migalha, 
esperada igual banquete...
Até chegar aqui na mão da gente,
A fome já foi na frente,
E devorou o que restava...

terça-feira, janeiro 12, 2010

PARA CASAR CONTIGO


Querendo me casar contigo,
Esqueci de outros luares,
Quando beijei desafetos,
Desapartei coincidências,
Datas se foram, diluídas
No turno das desesperanças,
Pois, para casar contigo,
Só vivendo outras infâncias...

Tudo para te guardar
No meio dos meus cristais
E para nunca nunca mais
Sumires nas desvairadas
Pois quando quero o que mais quero
Não meço meios de engano
Traço o certo infindo plano
E esqueço outros boleros

Fica só essa menina dançando nos olhos meus
Luas íris, se me vires,
Seu olhos serão só meus.
Pelos prantos derramados, merecerei beijos seus,
Ventos idos, só bem vindos,
Teus desejos sem adeus.

sábado, janeiro 02, 2010

questão de aptidão (um novo samba para saudar 2010)

Você sabe o que é
a grande mentira,
e acredita porque quer,
pode ser conveniência ou mesmo falta de vontade,
de saber dessa  verdade 
cristalina feito água,
ou é efeito de mágoa,
ou um mistério qualquer...

você sabe onde está a grande cilada,
e prefere a armadilha
coisa falsa porque brilha,
tão amarga enquanto adoça,
a boca que prega a peça,
a ilusão que te alimenta,
a estrela que  orienta,
cega mais do que liberta...


é tudo uma questão de aptidão
viver a vida e despistar o drama,
às vezes falta a noção
deitado em cama de ouro,
sonha mergulhado na lama...
mas quando entende a razão
até arrisca perder,
mas perde de pé
e se levanta sabendo quem é.