domingo, novembro 25, 2007

HOMEM SEM FIM


eu,

homem comum,

vertebrado, sentimental,

infernizado,

homem algum,

coisas sim,

coisas não,

tudo hospedado,

num único coração,

todo remendado mas fingindo de inteiro,

primeiro atingido,

último derrotado,

coração de braços fortes e mil razões,

capitão do pelotão,

soldado, e general,

até o fim, exército completo,

vencedor nato,

coração pronto,

pra lutar, sempre por si,

e até por quem

nunca lhe deu devido valor,

dias de breu, pra ter a paz

de pertencer a um rapaz, feito eu,

homem normal,

uma árvore um livro,

quem sabe um filho,

deixar um sinal,

de que esteve nesse barco e já passou

mas foi um homem sem fim,

porque sofreu, mas amou,

e já que amou conseguiu

deixar um pouco mais humano

o mundo tosco que viu...




Eduardo Alves

segunda-feira, outubro 29, 2007

Te dou minha palavra


lembro de você imóvel de cílios apontados pro céu,

brincando de dizer coisas que me assombravam o coração.

lembro de você insubstituível.

a vida moldada em torno dos seus cabelos e seu abraço.

lembro de coisas indizíveis.

ninguém acreditaria se eu disser o que fazia a gente dar tanta risada,

jeito tolo de dizer coisa importante,

sem a menor importância.



lembro da casa que era sua e agora não sei a quem pertence,

mas que dentro de mim virou a casa eterna do meu amor pra sempre.

claro que nada nela deve ter mais sua cor,

então tingi a memória com o cheiro do que me lembro...

lembro que eu te vi chegar de camisa verde, a última pessoa a descer do carro, pensei que nem vinha,

você nem sabia que eu via, estava lá de cima, da casa do amigo hoje morto,

mas te vi saltar do automóvel por último, e pensei,

meu amor tarda mas não esqueço...




lembro até

de coisas que nem quero

canções que já nem ouço,

pessoas que nem vejo,

porque isso tudo me traria o gosto do que não tive

em ti, tantas coisas faltaram ser minhas,

seu coração, fragmentos apenas,

nem sei se foi suficiente para outra felicidade,

e a que sinto nem sei se é feliz,

mas sei que lembro com todo cuidado,

de tudo, amargo ou florado.



e te dou minha palavra que está tudo a salvo.



Eduardo Alves

sábado, outubro 27, 2007

RIO VERMELHO BLUES

sentimental feito o cão,

saio de noite, objetivos confessos:

um só olhar desejoso, e farei mil progressos...

alguém me convida num bar: cante um trecho da canção

que fala de Baudelaire

“ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama

de Baudelaire...”



sentimental feito o diabo,

volto pra casa, adjetivos pregressos:

nenhum olhar desejoso, e bebi mil dejetos...

alguém me diz na TV: cante um trecho da canção

sobre os poetas de araque:

“ninguém me ama, nem aqui nem no Iraque,

ninguém me chama de Chico Buarque... “



comecei a duvidar,

sobre o que vim fazer aqui,

se é pra me acabar de rir de mim,

ou me encontrar, pra esquecer de fugir;

eu sempre sou otário e bobo da corte,

eu sempre deponho a favor do azar,

mas eu amo, e isso não é morte,

eu canto é pra me eternizar!



Eduardo Alves

terça-feira, julho 31, 2007

MIRA

Quem quiser me matar
Mapeie
As dores escondidas
Recônditas
Inéditas
E as esqueça.
Quem quiser me matar
Pense a lástima
Derramada e segura
Torpe, vil, matadora
A que devora e não se esconde mais.
Coração,
Não atire.
Cabeça,
Não.
Órgãos vitais,
Nem pense,
Não vale, não causa, não adianta...
Mire a voz,
Essa sim,
Qualquer calibre que use,
Podendo calar, mire
Podendo evitar, atire,
Quem quiser me matar me erre,
Só me cale, me cale, me cale...


Eduardo Alves – 24/5/07

Matreiro


do meu embaraço saio eu,
carrego meu santo com a força do braço,
desapego do frio, encaixoto o cansaço
pra limpar meu filme, faço escarcéu...
meu objetivo não é ir pro céu,
nem fazer meu nome parecer dinheiro,
é poder ser claro, saber ser inteiro
em tudo o que eu faço, tudo o que acredito,
nunca me isento nem nunca repito
no coro contente a consideração
de que sendo mais um, eu livro a minha cara
e faço parte de quem só reparte a mesma ilusão...


piso em falso,
às vezes murcho,
desequilibro,
nunca digo onde dói e sigo bonito, mais limpo,
no meu assobio vive um passarinho
e sua asa é a senha que o meu poema pediu pra nascer...
esse é meu jeito de não desaparecer
no meio do anonimato, cansado da vida que se leva em vão,
o samba me talha matreiro,
o samba me elege sensato,
o samba , de fato, é o hino da minha nação...


Eduardo Alves

quarta-feira, junho 20, 2007

De vez

Seu coração tem pulado por alguém?
o meu, permanece pulado, por você
ainda grudado no alto, do mesmo jeito
no pulo que deu
durante o primeiro olhar dentro do seu,
Meu deus, que frio que me deu,
calor que aconteceu, depois,
nada que se tenha medo,
nada que se precise desvendar,
segredo pregado no ar, nosso brinquedo
nós dois, doidos pra brincar...


seu coração tem batido por alguém?
o meu, permanece batido, por você,
não tava no seguro, deu perda total
do juízo, do pouco que havia
virou pó a razão, virou poesia
lugar de confessar os calafrios todos
delírios raros que acontecem fácil
em nossos preciosos jogos de contato...


mas e você, sem fim,
já é de alguém?
você sem falta, com certeza,
já se deu?
alguém te recebeu de presente
te percebeu diferente
na multidão te quis,
e teve?
Ou você guarda alguma coisa só pra si,
pra quem te amar à vera, descobrir
me diz,
o que é que eu faço por você, que ninguém fez,
pra te roubar pra mim,
de vez?

domingo, junho 17, 2007

Coração estranho a mim mesmo

Alarmes por todo o corpo. Sirenes. Turbilhões.
Há invasores por perto,
e tudo o que está suscetível
a derramar com urgência algo lúdico,
alardeia a vocação
tão nobre, de ser alvo,
a ponto de salvar
fracas correntezas,
de não conseguirem esculpir, o náufrago,
tão necessário.


Durante a invenção de tudo,
pensou-se o coração,
entre o lapso, tentação primeira,
o coração foi mapeado,
perdeu-se o mapa e ficou
a sensação
do incômodo eterno
de poder perder-lhe
a qualquer hora
na mesa de jogo,
no cais,
nas alturas.


Enquanto nada agüentasse
os fatídicos expedientes
de entra-e-sai de oceanos
e enfartos fulminantes,
ficou o coração
no cargo
de vermelho
e vivo
e bombástico
e esquerdo
e primeiro a parar
e levar consigo
tudo
o que vivo ficasse depois que não agüentasse o mundo mais lhe infernizando, dentro


o meu, este meu, coração extraviado
nos navios que iriam partir pro além mundo,
este romântico mártir da América ultimada,
malasartes,
somítico,
inadequado,
insurgido,
contrabandeado coração não sei/não saberei/nem quero
estrangeiro de mim, em mim mesmo,
eternamente até seu/meu fim...


Eduardo Alves, junho/07

quarta-feira, maio 30, 2007

POESIA DE VOCÊ

A poesia sabe de você: ela se filtra
Em sua carne doce, sua alma mansa;
A poesia cabe em você, ela se anima
De suas cores-flores, pérolas de rima...

Ela não sai dos invólucros do medo
Sem tua palavra dita rara primavera
Em sua boca ela é filme sem segredo
E se desnuda toda em sua pele-tela...

A poesia veste as suas fantasias
Já te queria musa antes que eu pudesse ver
O que os amores me dariam de você,
A poesia chegou antes e esculpiu
Todos os traços que não devem perceber
Olhos comuns de quem jamais te sentiu...


EDUARDO ALVES – MAIO 2007

quinta-feira, maio 24, 2007

Cafonice



rasguei
mil cartas que dariam
boleros de sucesso, ah, rasguei
queimei vinis 78 rotações,
talvez assim exorcisasse canções
que poderiam vir de mim mesmo,
contaminadas de romantismos vis,
de tantos compositores febris,
que eu jamais quis ser,
que eu lutei pra jamais ser...



cuidei,
de corações perdidos,
escrevendo mil pragas e revés,
pra quem do amor se utilizasse ao fazer sofrer
pagasse o preço do insucesso e pudesse querer
tentar outros refrões sem ilusão,
livres de romantismos vis
de tantos compositores cruéis,
que eu jamais quis ser,
que eu lutei pra jamais ser...



cafonice demais,
sandice demais,
falar de amor e de dor,
misturar fel e sabor,
Deus me livrou desse patético expediente...
se eu fosse um cafona dessa estirpe, assim,
cantaria boleros rasgados,
e diria mesmo sobre mim,
o que atribuo aos outros, coitados...



Eduardo Alves
maio, 07

quarta-feira, maio 23, 2007

Tantos Amores ( porque prima Joana me "acusou" de romântico)

é sempre,
não é de vez em quando só, relance,
nem de surpresa,
sem chance de ser só um pouco,
muitas vezes vem, assim, o transe
algo revolto,
quase de cinema a tela inteira,
quase de oceano, além, pra lá da beira,


é sério,
toda a razão de ter tanto mistério
é porque está o tempo todo, aquilo
incomodando de prazer e vício
a calma de artifício,
o equilíbrio morto,
o tempo está propício o tempo todo...

é isso,
o nome que se dá a tudo
que precipite a vontade de ser
TÃO INSANO QUANTO
não se julgava poder,
anti-projeto de medo, amor,
estímulo de desgoverno, amor,
perda de cada sentido, amor,
mais que o sentido inteiro, em si;
pra se afogar de verdade, amor
dentro de cada loucura,
tantos amores se façam, por nós,
luzes da nossa procura...


Eduardo Alves - mai/07

terça-feira, maio 22, 2007

Soneto controverso

Diga-me algo
que não combine
com essa boca
que tanto amo.

Diga-me adeus
pois é isso
que mais temo
e não decifro

assim
vou viver livre
de tais mistérios

e não dirás
nada que nunca
me tenha ferido

eduardo Alves, maio/07



sábado, maio 19, 2007

ENCERRADO

assunto encerrado, desejo morto,
quarto trancado por dentro...
no caos do contato, pás de cimento,
no cais de partida ventos pro barco...
To indo e me solta, me sinta escorrendo,
o amor é laico, o gôzo é sedento,
todos os defeitos cabem no meu peito,
quero abri-lo ao vento, me sentir alado...

e antes que eu diga
seu nome em vão, para qualquer praga,
e tema o revés, adeus, adeus, até jamais
um samba, pode resolver a questão
basta cantar em alto e bom refrão,
você mais não, ou não, você não mais...

EDUARDO ALVES, MAIO/07

TODOS OS PERIGOS

Saiba,
Colocar os pingos nos “is”,
E encontrar maneiras sutis,
De espalhar misérias e fel,
Tudo mergulhado no mel,
Pragas e feridas sortidas,
Tatuadas nas peles febris...

Suba,
Na altura máxima do mal,
Todos os requintes mais vis,
Seremos cobaias fiéis,
Nada é tão prazer que a teus pés,
Sentencie escândalos pra nós,
E nos deixe sem sangue e sem voz...

Estacione seu corpo na minha vontade,
Todo o bem, todo o mal da verdade
Eu quero assim, seus anjos e diabos
Hospedados em mim...
Vez eu quando eu procuro outro vício,
E te deixo no ar,
Pra enfeitiçar outro tonto,
E só reinar, e reinar, e reinar...

quiero la noche entera,
E que la noche sea eterna contigo,
Con quen aprendi de los peligros...


Eduardo Alves

Jan.07



sexta-feira, maio 11, 2007

Rotu/lado



Não,
Não faço tão mal quanto diz na bula,
Essas substâncias...
Posso ser diluído durante um eclipse,
A lua subtendida...
Não pareço tão ofensivo assim, entre seus dedos,
Seus dentes me calam,
Reflita sobre mim
Pelo ângulo maduro:
Tudo inacabado, algo de inseguro...

Não,
Não sou imune a boleros castelhanos,
Nem rocks sessentistas,
Tantas vezes me derramo e deixo pistas
Daquilo que me concentra,
Inteiro em todos os pedaços quando me arrebenta
A alma intolerante,
Não nasci pra ser julgado pelo instante,
Há dúvidas de sobra,
Prefiro o meu errante conjunto da obra...

Também, não,
Não cabe produto em minha dor,
A poesia vaza,
A canção delimita a ânsia da agonia
Quando me alivia,
Não sei ser out-door de promoção
O sentimento é raro,
Tudo em mim, da dor, é diamante caro,
Nem dinheiro vasto compra meu segredo,
Anti-rotulado coração sem medo...


Eduardo Alves

quarta-feira, maio 02, 2007

SONETO ESQUERDISTA

Coração de pasto, continente aflito,
Roubem-lhe as uvas e cuspam-lhe pedras.
Terra em que ninguém passeia nem se enterra,
Coração enfastiado de amores insolúveis.

Credo em cruz me impetrar outra paixão de inverno
Fazer engolir o fardo e entoar o blues amargo
Em dor maior, hinos irracionais em batida esquerdista
Tudo vermelho, mas no poder, desbotado, desbotado...

Tantas transfusões serão insuficientes
Para lhe dar caráter e jeito de algo
Que se respeite para não apanhar de novo, coração

Mas não te curas porque não te achas
Nesse emaranhado de luas que escaparam do limbo
E se enfiaram no peito pra te encouraçar, te esconder, te afogar em luzes...


Eduardo Alves, maio/07

(IN)DECISÕES



Outras decisões;
Mas devem ser as mesmas,
Resgatadas
para essa dor de agora.
Parecem pílulas
Contra um cansaço de sempre,
Revigorado
Para espancar esperanças.

Todos os dias
3 da manhã
lateja na têmpora
a vingança amada;
parece um filme
que nunca termina,
e extermina.

Qualquer dúvida,
Continua assim
Calada e impassível,
No altar criado
Para reverenciar a saúde
De sua magestade delirante
Péssima anfitriã de corações

Mas passa... deve passar
Mudar de planos
Nem que seja deste
Para o purgatório
Nem que seja deste
Para a sala de boleros
Todos de mãos dadas,
Jurando redenção
E rock’s catárticos...

Outras velhas decisões de sempre...
Eduardo Alves
maio/07

segunda-feira, abril 02, 2007

Criptonitas à parte

Temos mais de mil alternativas pra tentar escapar,
a ciência e a tecnologia ultrapassaram a barreira do caos;
a meta do terceiro milênio é fazer o homem ser imortal,
criando imunidade contra a crença, contra o vício e o vírus letal.

Mas, quando nós formos divindades, não podemos mentir,
não podemos mentir...

O homem levou ao pé da letra que foi feito igual Deus,
e agora cobra o que acha de direito, os poderes dos céus;
tempo faz que a lei foi feita pra todo humano pagar,
mas o homem faz de tudo agora para ser santificado e escapar...

Se virarmos divindades,
nada irá nos atingir,
nada irá nos atingir...

Agora resta descobrir se o Super-Homem sou eu,
e se por trás de mil defeitos não existe algum Deus,
eu só não quero é perder o direito de sentir minha dor,
criptonitas à parte,
eu quero morrer é de amor...

EDUARDO ALVES

O amor é Pop

Tão vendendo Jesus Cristo como se fosse desinfetante esotérico
tão confiscando nosso orgasmo e nos dando pra gozar, um tal de prazer genérico
tão misturando rock and roll com paranóia fashion
e criando uns escândalos pro IBOPE
e eu, trabalhando num projeto pra fazer o amor ser pop...

Tão virando divindade com a mesma velocidade de quem vira mendigo
tão mudando de partido, tão virando a casaca
e a gente acordado e vivo,
tão simulando chororô na hora do velório,
mas mandando o defunto ir pro inferno,
e eu, jejuando e protestando pro amor virar eterno...

O amor merece muito mais do que os quinze miseráveis minutinhos
de uma fama fabricada e banal,
merece uma estátua, um filme, um livro,
como um mega-ultra-ídolo internacional,
merece câmera espalhada no trajeto que percorre todo dia
com seu arco e flechinhas na mão,
o tiro é certeiro,
o amor é o funcionário do mês, o operário-padrão...

O amor não solta as tiras e tem fórmula secreta,
o amor lava mais branco e dá prêmios de montão,
existem coisas que só o amor faz por você,
o que já fez por mim, então,
o amor é pop,
um Beatle habitando o coração...

EDUARDO ALVES

quarta-feira, março 28, 2007

Por acaso

de vez em quando quieto,
tenha medo do modesto,
quase que não me tolero sem canção...
quase não presto,
quase me empresto a algo insano,
quase perverso, quase sem plano...

de vez em quando calado,
tenha pena desse surto,
quase me afogo sem refrão...
substituto fajuto,
de mim, decalcado, borrado
mais que uma espécie de indecisão...

eu quero apenas uma melodia convincente
sobre algo que toque essa vida da gente,
sem qualquer pretensão,
por acaso,
mas tudo só vale sendo canção...

de vez em quando silêncio,
num silêncio que diz tudo,
mesmo que esteja mudo,
seja pela canção...


eduardo alves, fev.2007

Canção para os tristes

Em 1989 escrevi esse poema, que pelas notas de Luciano Carôzo, maravilhoso músico e conterrâneo meu, virou uma bela canção, que injustamente nunca divulguei como deveria...
Fabiana do Carmo, filha de seu Louro e Dona Clara, ali da Praça da Purificação, minha amiga irmã querida, sempre amou essa música de forma especial.
Foi ela quem me lembrou que devo cuidar de "Canção para os tristes" de maneira mais atenta e paternal.
Aí está Bia: é para você, receba com o mesmo carinho que lhe tenho!


Canção para os tristes

Música de Luciano Carôzo
Letra de eduardo Alves


Traduzir o som da tristeza de alguém,
pode até não ser o mais belo invento;
mas o coração faz a dor de refém,
quando o amor de recolhe num momento...
quem entristece, colhe dos dias o lado gris,
pois fez a vida, de suas alegrias,
plantas sem raiz;
ludicamente anda,
calidamente fala,
e vive se esquecendo
que nasceu pra não entender...
deita tarde,
ama a música e a lua,
respeita as lágrimas que falam da verdade
o triste, tem seu próprio mundo,
e numa só rua,
deixa seus sonhos que são
maiores que qualquer cidade...


quinta-feira, março 22, 2007

Você, não

Curta seu ócios e seus melodramas,
Mas não me inclua nas suas semanas;
Crie seus blogs e suas aranhas,
Mas não me ponha nas suas barganhas...
Tenha seus troços e aeroportos,
Mas não me junte entre seus destroços;
Não fui dublado num sub-enredo mexicano,
Eu sou mais eu e já tenho algum plano...

Você,
Não...
Outras vezes, não,
Quase sempre, e nesse quase,
Sempre,não...
Nem que eu me faça de morto,
Nem que eu me vire ao contrário,
eu só quero ver você,
no sentido anti-horário...

Perca seus mitos e cure seus vícios,
Mas não me salve nos seus sacrifícios...
Só me perdoe havendo fraqueza,
Com certeza,
É só um caso de faltar certeza...

Você, não...


Eduardo Alves

fev. 07


Eu, não


sinta-se capaz
de nenhuma obrigação
respostas, não,
qualquer satisfação...
há atitudes
que dispensam
alguma explicação,
pode se guardar,
pra algo a te seguir,
tempo a atormentar,
eu, não,
às minhas horas
eu dispenso
consideração,
não quero mais me perder com nada vão...

eduardo alves – março/07

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Coração postiço

Fibra de vidro,
Aço inoxidável,
Antiferruginoso,
Trancafiado;
Senha secreta,
Palma da mão fechada,
Alma encouraçada,
Fenda de nada...
Pele bem rude,
Destino sem saúde,
Belo pro crime,
Tosco pra atitude,

Mistura nada homogênea, um sub-cinema,
Pseudo bolero, no quiero, no quiero,
Pé de pavão,
Hiato na canção...

Politiquismo,
Refém do preconceito,
Filho do vício,
Pai do desrespeito;
Muro concreto,
Pro amor, nenhum serviço,
pro desumano,
Coração postiço...


Eduardo Alves

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

SON OF A BITCH



Ou: longa vida à REPÚBLICA DAS BANANAS.

bem vindo distintos coronéis,
queremos convidá-los
a nos dar a grande honra
de foder as nossas meninas.
bem vindos, corretíssimos europeus,
virilíssimos americanos,
lasquem as nossas meninas.
Elas são mais fáceis que matar uma família de iraquianos,
venham depurar a nossa raça,
venham estuprar nossa nação,
as pernas estão abertas e sua grana as escancarará.
e ainda lhe deveremos perdão.
por sermos inferiores, perdão...

só não deixem de passar no site,
e deixar um solene comentário,
por favor façam a avaliação
sobre as piranhas do terceiro mundo,
comam as nossas meninas
e nos ajudem a garantir
65% de suas tropas
espermizando o nosso solo
limpando seus paus na bandeira
que tremula, orgulhosa
de abrir o cu da nação
a tão generosos visitantes.
bem vindos, senhores bravos,
acima de qualquer denúncia,
de qualquer suspeita,
o que nos importa são vossos sotaques, seus maus modos,
sua falta de caráter e sua opinião anti-higiênica sobre nós,
o que nos importa é o servilismo,
e essa gentileza disfarçada de colonização,
nosso ranço eterno, nossa glória sub-civilizada,
nossa angústia e desesperança.
Fodam as nossas meninas e contem com nossa indignação completa.
Já inclusa no pacote da Agência de Turismo que lhes trouxe
para o paraíso do absurdo e da vergonha.


Eduardo Alves – fev.07

terça-feira, janeiro 30, 2007

Soneto de amores gerais

Teve gente que já fez de tudo por amor,
Se jogou no mar, se atirou da ponte,
Teve gente que sentiu mil febres diferentes;

Teve gente que sofreu até gastar
O coração, que dava pra uma vida toda,
Mas o coração sabia saltar de paraquedas...

Ouvi falar de alguns que não quiseram mágoas
E passaram sobre isso feito um vento,
E depois, guardaram o resultado
na caixa preta do pensamento.

Eu, na minha vez de amar, fui tão completo
Que as canções herdaram uma luz difusa
Uma saudade imensa, um cais para ver o tempo
Ir embora, mas deixar as marcas na água e na alma...

EDUARDO ALVES - JAN.2007

terça-feira, janeiro 16, 2007

PRA OUTRO AMOR

Antes que separe
Alma e carne,
E cada um vá pra um lugar,
A alma volte a habitar a solidão,
E a carne o lado vão, da vida,
Vamos perdoar
O que já não tinha perdão...

Antes que supere
O mal que fere,
Vamos evitar que o mal
Seja algum sinal
De se resolver, ferir até trazer
De volta àquela paz,
Que jamais deve se perder...

Pra que não se escreva o fim, o fim não há
Nem se eu partir, você ficar,
Você partir, ou eu chorar;
De tudo o que já se viveu,
Eu já não sou apenas eu,
Ficou você, fiquei em ti, vamos seguir sem culpas...

Antes que se cante
O caos que nos espante,
O breu que nos esconda,
Da luz que nos revelará donos de nós,
E prontos pra outro amor,
Podemos abraçar esse futuro de outra cor,
Vamos nos proteger da invenção da mesma dor...


EDUARDO ALVES, JAN.2007

Com a licença do grande Herbert Vianna...

Vaidade


Cantor do LS Jack é internado em coma noRio após lipoaspiração.É possível isso? É admissível isso? Umrapaz de 27 anos ter umaparada cardíaca eentrar em coma após uma cirurgia delipoaspiração? Pelo amor de Deus,eu não quero usar nada nem ninguém, nemfalar do que não sei,nem procurar culpados, nem acusar ouapontar pessoas, masninguém está percebendo que toda essa busca insanapela estética ideal é muito menoslipo-as e muito mais piração?Uma coisa é saúde outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu.Hoje, Deus é a auto imagem.Religião,é dieta.Fé, só na estética.Ritual é malhação.Amor é cafona,sinceridade é careta,pudor é ridículo,sentimento é bobagem.Gordura é pecado mortal.Ruga é contravenção.Roubar pode, envelhecer, não.Estria é caso de polícia.Celulite é falta de educação.Filho da puta bem sucedido é exemplo desucesso.A máxima moderna é uma só: pagando bem,que mal tem?A sociedade consumidora, a que temdinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem.Imagem, estética, medidas, beleza. Nada mais importa.Não importam os sentimentos, não importaa cultura, a sabedoria,o relacionamento, a amizade, a ajuda, nadamais importa.Não importa o outro, ou a volta, ocoletivo.Jovens não tem mais fé, nem idealismo,nem posição política.Adultos perdem o senso em busca dajuventude fabricada.Ok, eu também quero me sentir bem, querocaber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar correr, viver muito, ter uma aparência legal, mas...uma sociedade de adolescentes anoréxicase bulímicas, de jovens lipoaspirados, turbinados, aos vinte anosnão é natural.Não é, não pode ser.Deus permita que ele volte do coma semseqüelas. Que as pessoas discutam o assunto. Que alguém acorde. Que o mundomude. Que eu me acalme.Que o amor sobreviva. "" Cuide bem do seu amor, seja quem for" Herbert Vianna

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Descanso

Vou descansar de amar,
fazer do próprio amor, a rede,
armar no amor, um mar
e me banhar na sêde...
Vou flutuar na luz
Deixar-me conduzir nas mãos do bem
De amar, me refazer,
Pra ter bem mais o que o amor me trará.

Vou me redefinir
Outros caminhos escrever em mim,
E em todos traduzir
Memórias do que percorri, sem fim.
E o fim, o que será,
Senão deixar de amar, de vez,
Pois descansar de amar
É nada mais que amar outra vez...

Eduardo Alves – 10/1/07

sexta-feira, janeiro 05, 2007

AUTONOMIA 2

Autonomia 2

Eduardo Alves

Por quantos grandes amores vou trocar você?
Em quantas outras canções você vai se infiltrar?
Nem sei quem te deu asa pra existir tanto assim,
E ir me apaixonando logo, sem me consultar...

Eu vou denunciar você lá no PROCOM
Por conteúdo de demônio em lata de anjo bom,
Por monopólio de desejo e formação de cartel,
Pra comprar todos os bilhetes da rifa do meu coração...

Eu vou te dizendo, baby,
Que não quer mais
Ser menos do que prioridade pra você;
De coadjuvante, cansei,
Mocinho, nem tanto assim
Só topo ser bandido se puder roubar você no fim...

Ah, se eu tivesse autonomia,
Se eu tivesse, gritaria,
Que não vou, não quero...
Ah, se eu tivesse autonomia,
Se eu tivesse, gritaria,
Que não vou...
Que não vou, não vou, não vou, não vou, não vou, não quero...
Não, você não vai me dizimar.
Eu tenho minhas canções, e elas ficarão por mim.
Elas respirarão por mim, e chegarão a lugares que jamais cheguei.
Se a face da terra é muito pequena pra nós dois, eu posso ficar nas periferias, não me importo. Eu me alojo em algum barranco com vista para algo tôsco. E disso eu faço meu Taj Mahal.
O importante é estar longe de você, a uma distância regulamentar de mil outros amores. Entre nós, mil , no mínimo mil possibilidades de algum contato carnal não-melancólico. Com você passou a ser aquela vida requentada e sem sabor de paixão mal exorcisada. e eu quero, eu preciso de mais que isso.
Pena que você sempre ofereceu bem menos...