lembro de você imóvel de cílios apontados pro céu,
brincando de dizer coisas que me assombravam o coração.
lembro de você insubstituível.
a vida moldada em torno dos seus cabelos e seu abraço.
lembro de coisas indizíveis.
ninguém acreditaria se eu disser o que fazia a gente dar tanta risada,
jeito tolo de dizer coisa importante,
sem a menor importância.
lembro da casa que era sua e agora não sei a quem pertence,
mas que dentro de mim virou a casa eterna do meu amor pra sempre.
claro que nada nela deve ter mais sua cor,
então tingi a memória com o cheiro do que me lembro...
lembro que eu te vi chegar de camisa verde, a última pessoa a descer do carro, pensei que nem vinha,
você nem sabia que eu via, estava lá de cima, da casa do amigo hoje morto,
mas te vi saltar do automóvel por último, e pensei,
meu amor tarda mas não esqueço...
lembro até
de coisas que nem quero
canções que já nem ouço,
pessoas que nem vejo,
porque isso tudo me traria o gosto do que não tive
em ti, tantas coisas faltaram ser minhas,
seu coração, fragmentos apenas,
nem sei se foi suficiente para outra felicidade,
e a que sinto nem sei se é feliz,
mas sei que lembro com todo cuidado,
de tudo, amargo ou florado.
e te dou minha palavra que está tudo a salvo.
Eduardo Alves
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