quinta-feira, dezembro 28, 2006

CÂMBIO, DESLIGO...

que tal começar pelo fim, camarada?
devo estar acustumado a esse expediente cinematográfico.
Vamos rebobinar o vocabulário e ver como chegamos a isso, se éramos tôscos desde sempre, se nascemos assim... se a raspa do tacho que nos inventou estava irremediavelmente contaminada pela " Bactéria do Tôsco "; é isso que deveremos ser, tudo nos aponta e nos remete nessa direção. Fomos indicados para esse cargo vitalício...
Conformidade já, camarada... a banda passa e vc dança junto... aquela mesma banda, lembra, que vc execrava, aquela que te lembra caralhos a quatro que não deveriam ter acontecido...
mas você dança mesmo assim, por que será? Deve ser porque tanta gente dança... e você, no fundo, quer fazer parte disso, dessa estatística milagrosa, o milagre da multiplicação da alegria democratizada e da gentileza ilimitada... a massa... a galerona!!!! todos uniformizados, que imagem mais linda, os milhares, os tantos, os vários... i'm sorry...
vai, vai com eles... se lance...
Nas entrelinhas, nas letras miúdas do contrato, por detrás dos medos, da angústia, da fúria contra tudo, da postura contrária, há uma necessidade infinita de adequação. Você na verdade não queria ter vindo com esse buraco no meio da alma, que é por onde escorre a imensa alegria do mundo, que já não te afeta. Você e esse seu trágico defeito de se emocionar com Samba-canção e canções de amor perdido, e rocks sessentistas. e filmes de conteúdo melancólico, e saudades, e reencontros, e cenas tórridas de amor... ah, por que você não é comum meu Deus, eu queria te encontrar num supermercado comprando cereal matutino e me indicando uma boa marca de margarina... só assim eu teria certeza da existência de Deus!
mas é assim mesmo, devo amar até o meu inconformismo com sua situação alienígena. Eu te vejo muito mais pelo seu despreparo que pelo seu desatino. As suas falhas são suas armas. As suas escolhas são suas vítimas...
Você pode se perguntar o porquê de eu ser tão analítico, e de eu agora focar você com tanta propriedade... eu acho que é porque você não me pertence, e eu tento parecer íntimo seu, em mim mesmo, decifrando suas torturas. auto-torturas. tortuosidades. Deve ser. Certeza de nada...
Quanto a mim, o que sou já me afronta o suficiente.
Me embrenhar na lama funda da desconstrução de mim mesmo, é tarefa pra muito mais tarde.
Por hora, falo de você pra pedir uma senha ao universo.

Câmbio, ligado... na frequência da luz e do pânico... fazendo uma varredura íntima, na veia da alma, assaltando as palavras mais tôscas, e não menos magnícas. Ponha as mãos ao alto, num gesto de apelo a algo que te desmistifique.

Um comentário:

  1. Anônimo9:29 AM

    lindo, lindo. entrou mesmo com o pé direito, mas com o esquerdo e com os braços também. tratas de temas difíceis de maneira liberta, usando apenas alegorias necessárias, com poesia, simplicidade, domínio. é como eu gostaria de fazer, mas tenho muito o que aprender. Um beijo, te adoro, você é dez, show de bola, escreva todo dia, entupa esse negócio com seus maravilhosos escritos. beijo!

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